segunda-feira, 18 de junho de 2012

Sua ida.

Quando eu paro pra pensar em Júlia, percebo que não há nada sobre ela que eu não recorde com absoluta precisão.
Desde a forma como as covinhas lhe apareciam no rosto quando ela sorria até o cheiro de erva doce que tinha o hidratante que ela costumava usar na hora de dormir.
Júlia não se julgava bonita e nem mesmo o era, diante do padrão estabelecido dentro desses estereótipos. Tinha uma pele extremamente alva e pequenas sardas que lhe enfeitavam as bochechas. Seu cabelo vermelho tremeluzia como fogo durante os poucos dias ensolarados de São Paulo. Seus cabelos não eram lisos e nem cacheados.
Júlia era mais do tipo que brigava com o pente e desistia no meio da luta. Jogava o cabelo pra um lado e sorria desajeitada de uma forma absolutamente linda. Seus olhos castanhos se estreitavam por detrás dos óculos de leitura toda vez que me via passeando diante dela pra chamar sua atenção.
Júlia não era curvilínea, mas tinha uma sensualidade só dela. Nunca fora muito vaidosa, mas o batom vermelho era sua marca registrada. Com ela, a vida parecia mais feliz. Sua presença era tão agradável que era fácil trocar qualquer festa por programas inúteis de domingo na TV.
Tinha um beijo que me enlouquece só de lembrar. No sexo, nossos corpos se entrelaçavam com um encaixe perfeito. Como se tivéssemos sido feitas uma pra outra.
E na manhã seguinte eu acordava com o cheiro de ovos com bacon impregnado pelo apartamento enquanto ela cantarolava Forever Young. Vê-la descalça vestindo apenas uma camiseta e uma calcinha enquanto cozinhava pra mim era como uma visão dos deuses.
Eu sempre me aproximava por detrás e a beijava a nuca, enquanto ela se virava e de repente estávamos fazendo amor sobre a pia enquanto a chaleira apitava anunciando o café pronto.
Falava baixo com voz suave e tinha um sotaque carioca que eu me deliciava ao ouvir. As pontas de seus dedos eram delicadas e suas unhas nunca estavam pequenas demais ou compridas demais.
Apaixonar-se por ela foi, provavelmente, a coisa mais fácil que eu já fiz. Ela tinha o constante gosto de cereja na boca e juntas, éramos o casal perfeito.
Então imagine a minha surpresa ao chegar em casa e deparar-me com o vazio absoluto.
Não havia a habitual música tocando, sua parte no guarda-roupa estava limpa e a única coisa que tinha ficado pra trás foi um guardanapo dentro da aliança sobre o mármore da mesa. Neste, continha apenas a mensagem ‘Hora de libertar-se’ e a marca de um beijo. Aquele vermelho vívido de seu batom.
Júlia foi meu primeiro amor.
E se fora tão repentinamente quando entrara na minha vida.
Quando eu paro pra pensar em Júlia, percebo que não há nada sobre ela que eu não recorde com absoluta precisão.
Desde quando nos esbarramos pela primeira vez na fila do cinema pra ver um filme do Woody Allen até a última noite de amor quando ela me beijou a boca antes de dormirmos e me disse que permaneceríamos eternamente jovens.

Um comentário:

  1. quero mais de Júlia e eu, a história é linda e apaixonante, a escritora sabe como intensificar cada sentimento através das palavras.

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