sábado, 7 de julho de 2012

Mais de Júlia

É engraçado notar que quando as pessoas nos pedem para descrever alguém, usamos de adjetivos superficiais e exteriores. Fulano é alto/baixo, magro/gordo, loiro/moreno/ruivo. Mas quando se trata de Júlia, eu a recordo com uma riqueza de detalhes tão absurda que poderia descrever suas expressões faciais diante de determinadas situações.
Júlia nem parecia carioca. Gostava de frio, fugia de praia e nem sequer se importava com futebol ou carnaval. Pode-se dizer que ela era uma espécie rara.
Gostava de andar de camiseta e calcinha dentro de casa e lia poesia em voz alta. Gostava de observar o trânsito caótico de São Paulo na hora do RUSH e de tomar café com cream craker.
Era simpática com todo mundo e sincera ao extremo. Sorria para estranhos na rua e gostava de usar botas.
Sempre que colocava Piaf pra tocar, afastava os móveis da sala e me chamava pra dançar com ela. Chorava em filmes tristes e também em filmes felizes. Comia pipoca doce no cinema e fazia um pedido não para estrela cadente, mas para arco-íris.
Dormia ouvindo música clássica e sempre vestia a roupa depois do sexo, o que de início me incomodava, mas depois percebi que era mais por hábito do que por outra coisa.
Mexia nos cabelos e mordia os lábios quando estava nervosa. Roia o esmalte para não roer a unha quando o filme lhe causava demasiado suspense.
Tinha fixação por números e a única página do jornal que lhe interessava era a de palavras cruzadas.
Gostava de filmes suecos e franceses. Era apaixonada por qualquer coisa que tivesse sabor de limão. Não gostava de deixar uma leitura incompleta, mas era impaciente demais pra esperar que o livro passasse a ficar bom apenas na sua metade.
Não era muito apegada à internet e preferia que as pessoas ainda mantivessem o hábito de mandar cartas ao invés dos ‘impessoais e-mails’, como ela dizia.
Trocava refrigerante por suco natural, mais por gosto pessoal do que por qualquer outro motivo. Não abria mão de carnes e massas.
Se embebedava ao som de Blues enquanto recitava Shakespeare.

Gostava de vinho branco e tinha talento na cozinha.
Depois da nossa primeira noite de amor, Júlia vestiu sua camiseta e fez um macarrão ao molho branco que eu ainda mantenho fixo, o sabor na memória.
Porque quando se trata de Júlia a memória não me falha.

Um comentário:

  1. Júlia sempre maravilhosa. Temos o gosto por suco em comum. Continue, continue :P

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