quinta-feira, 12 de julho de 2012

Os nós entre nós


Quando me dei conta do que Júlia representava em minha vida, o pânico se instalou em mim. Apesar de passar horas ao seu lado, e de sorrir, e de conversar, e de fazer amor, eu ainda não tinha percebido o que tudo aquilo significava.
Se enquanto me apaixonar por ela foi a coisa mais fácil que eu já fizera, reconhecer Júlia como um relacionamento amoroso, foi acredito que o mais difícil.  

Me peguei pensando em quantas pessoas eu julguei ao criticar o fato de que elas não se abriam ao mundo e tinham medo de mostrar quem realmente eram... E naquele momento, eu era uma delas.
A grande verdade é que é muito fácil falar quando se está de fora da situação, mas quando você se apaixona e percebe que passear de mãos dadas na rua ou apresentá-la ao seus pais será uma complicada tarefa, as coisas mudam de figura.

Com todos esses pensamentos por dias rondando minha cabeça, fui pega de repente quando Júlia me chamou para sair com seus amigos. Até então éramos eu e Júlia. Júlia e eu. E eu nem sequer lembrava que existia vida fora das quatro paredes do nosso quarto.
Não conhecia nenhum dos seus amigos, ou dos lugares que ela tinha o hábito de freqüentar, mas resolvi ir. Por ela. Eu faria qualquer coisa por ela.

Chegamos a um barzinho aconchegante e bem decorado. Do tipo Cult, com pessoas estilosas e sorridentes. Um local com uma atmosfera de outro país e uma música indie desconhecida tocando em som ambiente.
Então esse era o lugar de Júlia.

Me senti meio desconfortável inicialmente, mas depois de algumas doses comecei a relaxar. Todos os amigos de Júlia foram extremamente simpáticos. Anna e Rita eram duas lésbicas, que segundo Júlia eram apaixonadas uma pela outra, mas não tinha coragem de admitir devido a grande amizade existente entre elas. Vitor era um garoto gay com um ar meio hipster. E por fim, Carina e Jefferson eram ‘os heteros’ como chamavam os demais. Um casal divertido que estavam juntos há cerca de 3 anos e meio.

Conversamos sobre música, cinema, literatura. A tequila falou mais alto e acirramos sobre política e religião. E o assunto rendeu uma noite agradável e divertida.
Quando finalmente resolvemos deixar o local, percebemos a chuva torrencial que caía lá fora. Ninguém havia se dado conta da hora ou do clima. Ninguém havia se dado conta de nada. E eu só consegui dar conta de Júlia. Linda, sorridente e simpática com todos que via.

Ao sair, Carina nos ofereceu um guarda-chuva extra que ela tinha na bolsa e saímos do bar a caminho do carro que eu havia deixado estacionado na outra esquina.
Entre pessoas transitando e algumas se protegendo nas puxadas dos bares que haviam naquela mesma rua, Júlia se emaranhou em meus braços se apertando em mim. Eu travei. Aquela demonstração de afeto pública me gelou o sangue e travou-me as pernas. Parei no meio da rua sem saber como reagir.

Os amigos de Júlia que seguiam à nossa frente pararam para nos esperar e então Júlia se virou pra mim. Nós nunca havíamos agido daquela forma em público e Júlia me encarou com um sorriso no rosto.

- Esqueça todo o resto. Somos apenas nós. Somos apenas nós e os nós que nos atam.

E ela se aproximou e me beijou a boca com intensidade. Entre assovios, risadas e até mesmo alguns aplausos, o guarda-chuva escorregou dos meus dedos amolecidos e a água nos banhou.

Foi assim que eu aceitei Júlia com um amor incondicional independente do resto do mundo. Tenho olhares alheios como testemunha e o barulho da chuva como fundo musical.

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