quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Lembranças


Caminhávamos lado a lado, mas eu sempre tinha a impressão que Júlia estava um passo a frente de mim. Sempre.
Era como se pertencemos a mundos diferentes e que ela, com sua bondade, deixara-me adentrar seu louco mundo das maravilhas e mostrara-me o sentido de coisas que eu realmente não entendia a principio.

Júlia tinha um jeito todo dela de me dizer as coisas, às vezes bastava sorrir com o olhar para que eu compreendesse exatamente o que ela queria de mim.
Foi dessa forma que quando passamos pela piscina do prédio e ela fitou a piscina por um instante e me deu aquele sorriso, eu sabia exatamente o que ela queria.

Era quase três horas da manhã quando havíamos chegado de uma festa na casa de uma amiga dela e pra quem conhece São Paulo, sabe que o frio toma conta e que é praticamente suicídio se jogar em uma água possivelmente gelada, levando-se em conta o clima ambiente.

Júlia não parecia se importa. Não com o frio e menos ainda com a possibilidade de que alguém nos visse. Ela me puxou pra beirada e sussurrou em meu ouvido:

- Talvez devêssemos tirar nossas roupas para não molhar.

Fosse pelo álcool em minha mente, pela corrente de adrenalina que passava meu corpo ou pelo cheiro almíscar do perfume dela, eu me deixei levar.
Quando me dei conta Júlia beijava-me os lábios enquanto tirava minha blusa. Minha saia saiu tão rápido que eu não nem me lembro de tirá-la. Júlia fitava-me os olhos para em seguida beijar-me a boca, o rosto, o pescoço e os ombros enquanto tirava-me o sutiã.
Recordo de ter hesitado um instante antes que ela tirasse minha calcinha, se por um lado a excitação do momento me preenchia, por outro a possibilidade de ser pega naquela situação assombrava minha mente. Acabei por deixar que Júlia fizesse o que tinha que fazer.
Tão rápido que eu sequer me dei conta do que acontecia, Júlia ficou nua e no instante seguinte se jogou na água. Meus olhos estavam fixos na sua imagem embaixo da piscina enquanto ela mergulhava. Sua pele pálida refletindo sobre a luz do luar e seu cabelo geralmente bagunçado, escorrido sobre seu rosto. Ela me abriu aquele sorriso encantador.

-Eu diria pra você entrar, mas estou gostando da vista daqui.

Corei. Eu estava hipnotizada com Júlia e não me dera conta de que estava completamente nua e exposta parada à beira da piscina. Sorri sem jeito e caminhei lentamente até a borda colocando os dedos do pé para sentir a temperatura da água.

-Não seja covarde, assim você vai ficar com mais medo. Pula!

Não era do meu feitio nadar de madrugada, ainda mais nua. Ainda mais em São Paulo onde o frio era constante. Mas eu aprendi que com Júlia, eu fazia coisas que não eram do meu feitio.
Então, eu simplesmente fitei o céu por um instante e me joguei na piscina.
O mundo silenciou. Naqueles segundos em que tudo era absorto pela água ao meu redor, não havia nada. Talvez a morte fosse mais ou menos assim, eu pensei.
O frio percorreu o meu corpo e eu me senti trincar enquanto a água congelava minha pele.
Então eu emergi com Júlia me puxando pra cima.

-Oh! Belo mergulho. –ela ajeitou meus cabelos jogando-os para trás e beijou-me por um instante.

Foram tantas as vezes em que me permiti ultrapassar meus próprios limites de sanidade para mergulhar no mundo de Júlia que quando fizemos amor dentro daquela piscina, a ideia já não me parecia tão absurda

Estávamos ali. Depois das três da madrugada. Dentro da piscina do prédio. Correndo o risco de sermos pegas. E nuas. E transando. E Júlia beijava-me a boca me fazendo esquecer qualquer uma dessas coisas.